Eu nunca entendi bem porque minha mãe e grande parte das mulheres fazem escândalo por causa de um misero e nojento inseto. Meu Deus, que mal (além de saúde) ele pode fazer na vida de alguém? Pensei até que era a maneira de jogar um charminho pros homens acharem que eles são o máximo. Mas, não. Na verdade, acho que é até o contrário, o povo faz é correr. Ainda mais minha mãe. Acho que nem quando deu a luz a uma linda menina (leia-se eu: “Simonny”) ela gritou tanto (de alegria, claro).
Falar do filme Joe e as baratas é proibido, ver então é quase um crime. Cantar aquela musiquinha: olha a barata, pega o chinelo e mata… É praticamente pedir pra morrer ou matar alguém do coração.
Matar baratas nunca foi meu hobby, mas teve uma época que era um esporte praticado diariamente. Tanto que em dias que a preguiça o cansaço batia, elas passavam e eu parada estava, assim ficava. Às vezes, a carência por estar só era tanta que eu até conversava com elas. Falava da vida, da dificuldade que elas tinham em morar no esgoto e comer porcarias. Tentava ser simpática e tal. Mas tinha uma em especial que abusava da bondade alheia e testava o limite da pacificação humana.
Durante dois dias ela passava tirando sarro da minha cara. Eu tenho certeza que ela sorria e balançava a bunda tipo o siri da Brahma que fazia nã nã nã…. Aquilo já estava passando dos limites. Baratas não é o bicho legal, é nojento, imundo. E eu não fazia questão em tê-las como visitantes e muito menos como amigas. Mas aquela barata que sorria me tirava do sério tanto quanto as outras. Um dia, de madrugada eu estava decidida a exterminá-la. Posicionei-me estrategicamente a sua frente, ela correu por baixo das minhas pernas e sorriu, mais uma vez. Por horas corri atrás dela. Até que eu fui à última a sorrir e provei que é bem melhor rir por último.
Isso me fez sentir um gostinho de vitória. Mas, pra quem mata um leão a cada dia, baratas são apenas bichos insignificantes, que sorriem.